sábado, 6 de fevereiro de 2010

Contra a força não há argumento

ou, Reconstituição.

No princípio eram todos errados. E tudo seguiria bem, cada qual com seus danos, não fosse alguém querer provar que mais errado era o outro.

– Esse filho da puta vai aprender a não mexer com alguém como nós! Onde já se viu, em pleno Bairro Nobre ser ofendido por essa ralé.

Alguém chegou a dizer - meio automático, é verdade – Deixe isso para lá. Mas os argumentos eram fortes e, principalmente, o sentimento de proteção e defesa do território, conquistado com suor de muitos anos.

– Eu vou acabar com a raça desse desgraçado. Filho da Puta. Ele vai aprender a não mexer com certas pessoas.

Chegou cedo, queria resolver esse problema com urgência. Do carro, ela apontou para o outro lado. Foi impossível não se encontrar em frente à padaria. Ela, cabeça baixa - medo, vergonha, - ele, sorrindo com raiva.

– Putz, esses playboys vão me foder - pensou o outro. E seguiu com os olhos cada movimento alheio. Viu entrar com fúria, e bater no balcão enquanto berrava. Mesmo quando o responsável chegou, não diminuiu. Movimentava os braços e levantava-se sobre os pés, sobre todos. As pessoas olhavam atônitas. Umas olhavam para fora, procurando o que se apontava lá de dentro – Que MERDA!!! – Se escondendo atrás dos loiros cachos, se encolhendo, estava a menina. Quando dentro o gerente esboçou um movimento, fora o segurança recuou. Deu a volta ansioso e entrou pelos fundos. Demorou. Não sabia o que fazer...

Enfim, ao trabalho.

Voltou a seu posto. Menina? Chefe? não estavam. O garoto estava. E começou uma discussão sem início, um mundo de provocações, xingamentos e ódio. Foi então que um dedo invadiu sua cara. E quando esse dedo apertou a tesa carne de seu rosto, o insuportável aconteceu. Do bolso sacou a faca, peça de talher, serrilhada. Enfiou fundo. Abaixo do bolso do terno. Surpreso, o garoto arregalou os olhos e deu um passo atrás. Sentiu a fragilidade do corpo quando o metal rodou áspero por suas entranhas.

Caiu. Caiu sem entender o que acontecia.

No outro dia, um velho, do alto da sabedoria de sapateiro, lamentou: Pobre é o homem, que não briga por sua sobrevivência. Faz guerra, muita guerra. E por orgulho, vaidade, rancor, soberba, arrogância...

***
 
"ê vida vã
ê ê ê vida vã
o jornal de hoje
é o papel de embrulho de amanhã"
Zeca Baleiro
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário